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KarlosPotter


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Superação do Amor

Capítulo I

Era início do ano letivo, Alan já estava dentro da sala de aula, conversando com seus amigos. O garoto iniciava, aos 15 anos, o segundo colegial e como todo primeiro dia de aula, todos da turma estavam animados.
Eram risadas, gracejos e as vozes de alunos e professores ecoando por todo aquele colégio daquela pequenina cidade interiorana.
Alan era amigo de todos da sala, sempre foi assim, comunicativo e extrovertido, adorava festas e mesmo sendo menor de idade, bebia consideravelmente assim como seus amigos. Apesar de não ser alto, era um garoto bonito, possuía lindos olhos azuis e cabelos encaracolados, como dos anjos, só que negros como a noite e sua pele era clara, sendo que tudo isso lhe trazia um relativo sucesso com as garotas.
Como todo começo de ano, o colégio recebia novos alunos que porventura se mudassem para a cidade, e naquele ano a turma do segundo colegial recebera um aluno novo.
Alex entrava timidamente dentro da sala, ele tinha cabelos lisos e loiros, olhos castanhos e não era alto, mas era um lindo garoto de 16 anos. 
Sendo assim logo ele chama a atenção das meninas, seus lábios rosados eram atraentes, seu jeito tímido e meigo as cativava, o que era motivo de ciúmes para os garotos da sala.
- Que merda! Vocês como sempre não podem ver homem de fora... – diz Alan, debochando das suas amigas.
- Aahh!! Ele é um gatinho! – exclama Natália, sua melhor amiga.
- Vocês não tem jeito mesmo... – diz Paulo, seu melhor amigo.
Então logo as garotas mais desinibidas vão conversar com o aluno novo e Alan fica junto dos seus amigos, comentando as atitudes de suas colegas.
  Então a aula começa e Alex acaba se sentando perto de Alan e Paulo, no “fundão”.

Com o transcorrer da aula Paulo faz amizade com o aluno novo, mas Alan continua achando o menino loiro antipático e ainda não havia dirigido a palavra a ele.

Mas na hora do intervalo, Paulo chama Alex para se sentar junto com ele e seus amigos e como   Alan é um desses amigos, ele então o apresenta:
- Este é o Alan, ele é assim mesmo não liga não viu! – sorri Paulo.
- E aí? Beleza? – diz Alan, sem estender sua mão. 
- Beleza. – fala Alex. 
Os olhos azuis de Alan fitavam Alex que emudecera. Os dois por um tempo ficam se encarando, olhando profundamente um para os olhos do outro, até que o garoto de olhos claros se afasta pensando: “Cara chato.”
Alex fica junto com os demais garotos, incluindo Paulo, que parecia estar gostando do novo amigo.
As aulas então acabam e todos os alunos imediatamente vão embora.
Alan logo que se levanta da sua carteira e arruma seus materiais, sai sozinho, não esperando Paulo, Natália e seus demais amigos.
  - Oww! Não vai esperar a gente? – diz Paulo ao ver o amigo indo-se.
- Estou com pressa, até amanhã. – diz secamente o menino de olhos azuis.
Então Paulo, Natália e outros vão embora, junto com Alex, que conquistara a simpatia de todos.
Depois do almoço, já na sua casa, Alan se deita, ainda pensando em Alex, para o qual ele sentia raiva e ciúmes, pois se tornara o centro das atenções entre seus amigos.
- O jeito dele me incomoda, menino tonto... – pensava o garoto que se deita no sofá da sala para tirar o costumeiro cochilo após o almoço.
Alan logo pega no sono, mas por volta das 15 horas ele acorda com o toque da campainha. Ele se levanta irritado e todo despenteado, e abre a porta da sala.
- Você! – exclama o menino de olhos azuis ao ver Alex, o aluno novo.

 

Capítulo 2

Alex fica imóvel encarando Alan, até que de repente a roupa de ambos fica manchada de sangue e a aflição toma conta dos dois garotos.
O menino de olhos azuis então acorda assustado, estranhamente ele sonhara com o aluno novo.
- Orra! Que sonho mais louco! – exclama Alan já desperto. – Pensa bem sonhar com aquele idiota... Credo... – termina o garoto que vai para o banho.
Mais um dia de aula, Alex continuava sendo o centro das atenções, Paulo e Natália se tornaram grandes amigos do aluno novo, o que deixava Alan com ciúmes, pois ele tinha grande antipatia pelo garoto loiro.
Já no segundo dia de aula os alunos combinam uma festa no fim de semana, festa esta a ser realizada na casa de Paulo, já que seus pais iriam viajar e ele ficaria sozinho.
- Está animado para a festa Alan? – pergunta Natália.
- Um pouco... – responde o garoto de olhos azuis não demonstrando nenhuma animação.
- Você?! Logo você o “senhor das festas” está apenas um pouco animado?! O que está acontecendo?! – surpreende-se Natália, enquanto conversava com o amigo na hora do intervalo.
- É... Estou só um pouco animado... – diz Alan com o olhar fixo para onde Alex, Paulo e os outros meninos conversavam descontraídos.
- Alan, desde que o Alex chegou você está estranho, hoje já é sexta e desde segunda-feira você mudou...
- É que eu não vou com a cara desse moleque, só isso.
- Mas o que ele tem de mais para não ir com a cara dele?
- Aí Natália nada, ele não tem nada. – diz Alan que sai meio irritado e entra para a sala de aula.
Do outro lado do pátio Alex nota que o garoto de olhos azuis havia deixado a amiga sozinha e então ele vai ao seu encontro.
- Algum problema Natália? – pergunta amável o menino loiro.
- Não, não é nada, o Alan só está cansado. – sorri a menina.

Então chega sábado a noite e a festa começa. Bebidas e alguns tira-gostos já estavam sendo servidos na casa de Paulo e vários colegas já haviam chegado. A música eletrônica tocava alucinante, batidas rápidas conjugadas com a embriaguez da vodka alucinavam os jovens, que dançavam freneticamente.
Alex já estava junto com Natália e das outras garotas, todas doidas para beijar o aluno novo, mas ele que pouco havia bebido se mostrava tímido as investidas femininas.
Paulo embriagado estava a dançar junto com os demais amigos e amigas, e Alan ainda não havia chegado.
- Onde será que está o Alan? – pergunta para Natália o aluno novo.
- Ele deve estar chegando. – sorri a garota.
- Sabe Natália, eu acho que ele não gosta muito de mim...
- Capaz! Nada haver não Alex, ele é daquele jeito mesmo.
Nesse momento então começa a tocar uma versão remix de All The Things She Said da dupla russa t.A.T.u. e ao som dessa música Alan entra no recinto, já bêbado e gritando a todos, animado como sempre fora.
O garoto de olhos azuis chega abraçando a todas as meninas e já pulando e dançando com elas. Ele se aproxima de Natália e a chama para dançar, mas para a surpresa desta, ele também chama Alex, sorrindo para o garoto.
O menino loiro se mostra tímido, então Alan o leva para pegar algo para beber.
- Eu sonhei com você na segunda-feira, sonho estranho cara, eu me encontrei com você e de repente nós dois estávamos manchados com sangue! – diz Alan enquanto enchia o copo do aluno novo.
- Estranho, eu também sonhei com você na segunda-feira, mas no sonho eu apenas via você de longe, sorrindo. – diz Alex, surpreso.
- Os sonhos são estranhos né! Mas esquece isso e vamos beber, assim você fica mais desinibido pra dançar!
Logo Alex já estava mais “solto” e dançava junto com Alan, Natália e os outros, enquanto as meninas que estavam afim do aluno novo ficavam apenas na vontade.

- Alex eu achei que não gostava de você, mas eu bebi e percebi que na verdade eu vou muito com a sua cara! Acho que seremos grandes amigos! – diz o garoto de olhos azuis para o aluno novo, enquanto dançavam.
- Sim! Eu também acho isso Alan! E me preocupei pensando que você não ia com a minha cara, porque eu desde que cheguei quis ser seu amigo, pois você é querido por todos, é animado e comunicativo, eu fiquei meio admirando você... – diz o menino loiro desinibido pela vodka.
- Ahhh!!! – exclama Alan que abraça forte Alex em meio a todos e em seguida ele também abraça os demais amigos.
A festa então transcorre normalmente e chegando a hora de ir embora, Alan e Alex, que moravam perto um do outro, vão embora juntos.
Já era quase quatro da madrugada, as ruas estavam desertas, a pequena cidade de 15 mil habitantes dormia.
Ainda “alegres” os dois meninos vão embora conversando e dando altas risadas pelas ruas.
Enfim eles chegam até a casa de Alex.
- Bem, então até mais. – diz Alan que se vira para ir embora para casa.
- Alan! - exclama o garoto loiro.
- Diga. – o menino de olhos azuis retrocede e se aproxima do aluno novo.
- Obrigado por me acompanhar e por não ter raiva de mim, como eu pensei que você tinha.
- Já falei para você não pensar isso! – exclama Alan que abraça fortemente Alex.
Eles ficam um tempo abraçados, ali naquela madrugada deserta. Seus rostos então ficam colados um no outro e ambos vão deslizando lentamente suas faces até que seus lábios se tocam. Era a primeira vez que isso acontecia com ambos. Sentir os lábios macios e quentes de um outro garoto era algo de fazer o coração disparar. Eles então abrem as bocas e suas línguas se encontram num beijo apaixonado tendo como testemunha apenas a lua cheia que irradiava sua luz cálida.

 

Capítulo 3

Alan então se solta dos braços de Alex, ele arregala os olhos assustado e abre a porta da sua casa. O garoto de olhos azuis tenta dizer algo, mas sua voz simplesmente não sai. Então o aluno novo entra em casa, apenas dizendo “tchau”.
Ambos estavam confusos, Alex vai embora, pensando no que tinha acontecido. Como pode ter acontecido isso? Ele até a pouco tempo não ia com a cara de Alan, mas naquele momento, parecia que o que ele mais queria ela tê-lo em seus braços, como alguém muito caro que não via há muito tempo, e nada mais importava. Seu cheiro, seus lábios, sua pele, seu olhar profundo, tudo isso o fazia estremecer. Mesmo um pouco embriagado, foi difícil para o menino de olhos azuis pegar no sono, eram muitas dúvidas na sua cabeça.
O mesmo se diz para Alan, que se sentia culpado, ele havia beijado um outro garoto, na sua cabeça isso não era certo, ele nunca quisera algo do tipo para si, nunca havia sentido atração por alguém do mesmo sexo, mas com Alex era diferente, desde o primeiro momento que o vira ele ficou admirado, mas até aquele momento, o menino loiro achava que era mera admiração, porém descobriu que na verdade era atração, uma inexplicável atração.
Então a semana recomeça, era segunda feira, Alex já estava sentado no seu lugar, apreensivo, esperando a chegada de Alan, mesmo não sabendo como encarar o aluno novo.
O menino loiro chega junto de Natália, logo que vê Alex ele sente seu coração disparar e instantaneamente emudece.
- O que foi Alan, algum problema? – pergunta a garota que o acompanhava.
- Não, nada! – sorri ele.
- Então vamos ali, nos sentarmos com o Alex.
- Sim, vamos. – sorri novamente, agora forçado.
Se aproximando de Alex, ambos o cumprimentam.
- Bom dia Alexinhooo!!! – diz Natália sorridente.
- Bom dia!
- E ai. – diz Alan, sério.
- E ai. – responde Alex, no mesmo tom.

As aulas se transcorrem normais, mas Alex não conseguia parar de pensar em Alan e no acontecido, o garoto loiro não saia de seus pensamentos e hora e outra ele se via olhando para o colega, como quem admirava uma paisagem.
Já Alan tentava não pensar em Alex e muito menos no ocorrido, ele queria esquecer aquela noite enluarada de sábado.
E assim a semana vai passando... Em casa, na escola, antes de dormir, ao acordar, o menino de olhos azuis estava sempre a pensar no colega novo.
- Eu nunca senti atração por nenhum outro menino e sinto atração por meninas, eu não sou gay! Mas será que sou bissexual? De qualquer forma, eu quero conversar com o Alan, quero resolver isso...
Então numa quarta feira, na educação física, já no entardecer, com o colégio já quase deserto, Alex percebe que Alan havia ido até os bebedouros beber água e logo o segue.
- Alan, eu queria conversar com você. – diz o menino de olhos claros.
O aluno novo fica branco, seu coração dispara, durante toda a semana ele havia tentado se afastar do colega, mas agora era inevitável, e o pior, não havia ninguém perto deles naquele momento.
- Alex... Eu... – gagueja o novato.
- Está confuso também?
- Não! Não! Eu sei bem que você é meu amigo! Você mesmo me disse isso aquele dia. – fala o garoto loiro eufórico.
- Alan... Eu não sei o que está acontecendo comigo, eu... Realmente não sei...
- Não diga nada. – o menino de olhos azuis se aproxima de Alex. – Eu também estou me sentindo mal pelo que aconteceu entre nós dois depois que fomos embora.
- Não é isso, até posso estar me sentindo mal, mas algo maior ocupa minha mente, eu... – Alex se aproxima rapidamente de Alan e tenta beijá-lo na boca, mas o garoto se afasta.
- Isso não é certo... Não quero isso pra mim. – diz o aluno novo.
Alex então suspira fundo e com um semblante triste diz:
- Eu também não queria, mas apenas estou fazendo o que meu coração pede...

Ele então se vira e caminha na direção oposta a Alan.
O garoto de olhos azuis fica a observar, pensativo, o colega indo embora até que subitamente ele grita:
- Alex espere!

Capítulo 4

Alex imediatamente pára e se vira para Alan, que diz, sem jeito:
- No fim desse mês parece que vai ter uma festa numa choperia em uma cidade vizinha, você vai né?
- Não sei, nem sabia dessa festa... – diz o menino de olhos azuis um tanto quanto desapontado.
- Mas nós vamos juntos sim! Aí você me apresenta as meninas! Xavecar! – sorri forçado Alan.
Alex retribui ainda mais falsamente o sorriso.
E assim os dias vão se passando...
Os sentimentos do garoto de olhos azuis continuam os mesmos, até que ele decide afogar aquilo que estava sentindo, pois não poderia vivenciá-los e estava só a sofrer.
Já Alan parecia ter esquecido completamente o que havia se passado naquela noite, ele já se tornara amigo de todos e estava despertando paixões nas meninas da sala. 
Então o dia da festa na choperia finalmente chega. Como a tal choperia era numa cidade vizinha, Alex, Natália, Paulo, Alan e os demais amigos da turma iriam de van.
- O que há com você Alex? – pergunta Sara, outra amiga do garoto, enquanto eles já estavam para pegar a condução.
- Não é nada! – sorri ele, olhando tristemente para Alan, que estava a conversar com várias garotas da sala.
- Vamos beber lá!! Aí você anima! – diz Natália sorridente.
Logo a van chega e como era uma cidade muito próxima, logo a turma estava na choperia, onde estaria acontecendo uma baladinha local.
- Vamos então fazer como sempre né Alex? – diz Naty.
- Vamos sim! – responde o garoto, sorrindo e a puxando pela mão.
Eles então se dirigem ao balcão e pedem uma dose de pinga para cada um e viram o copo de uma vez só!
- Vocês vêm numa choperia e bebem pinga! – exclama Alan que se aproxima juntamente com Paulo e Luiz, outro amigo.
- É um costume nosso! – diz Alex. – Não vai não?
- Vou sim! – então o menino loiro também vira uma dose de pinga.
E assim vai, a noite toda, bebendo pinga e chopp, aos poucos todos da turma vão ficando bêbados, uns mais, outros menos.

À medida que Alex vai ficando embriagado, ele começa a desejar Alan, cada vez mais e mais ele queria poder abraçá-lo, beijá-lo, queria tê-lo em seus braços e sentir seu aroma, afagar seus cabelos dourados e protegê-lo de todo e qualquer sofrimento. E o que mais lhe machucava era a indiferença do aluno novo, que estava se divertindo com as garotas, sempre parecendo que ele iria beijar uma delas, enquanto ele, por mais que lutasse, não conseguia apagar o que ele sentia.
Começa a tocar a música “Malchik Gay” das t.A.T.u. e Alex então se senta e fica apenas a observar, ao longe, quando isto era possível, Alan com as garotas. A letra da música ecoava em sua mente e em seu coração.
“I can be all you need.”
- Por que então ele me beijou aquele dia? – se perguntava o garoto.
“Won´t you, please, stay with me.”
- Eu só queria poder viver esse sentimento intenso que está apertando meu coração... Eu queria... – então Alex se levanta e aproveitando que Alan havia se sentado, vai ao seu encontro.
“Apologies, mother, please.”
O garoto de olhos azuis então chega por trás do menino loiro e o abraça, dizendo ao seu ouvido:
- Está se divertindo?
- Sim! Estou! – sorri Alan, sem sair do aconchego dos braços do colega.
Alex então desliza lentamente seus lábios sobre o pescoço de Alan, este apenas sente seu coração disparar e um arrepio lhe corre a espinha. Logo o menino de cabelos encaracolados solta o colega.
As garotas então convidam Alan para dançar e ele não nega o convite.
Novamente Alex estava sozinho a observar o amigo.
“Can´t erase what I feel.”
De repente para a sua surpresa, ele vê a pouca distância, o menino loiro beijando uma garota. Ele se aproxima um pouco mais e para o seu infortúnio a garota era a sua melhor amiga, Natália!
“I want to be the object of your passion, but it is hopeless…”

Capítulo 5

Alex fica a observar por um determinado tempo enquanto a amiga beijava o menino pelo qual ele, sem dúvida, estava apaixonado. Logo lágrimas começam a rolar por seu delicado rosto e seus olhos azuis celestes se tornam como que cascatas a verterem lágrimas.
- Isso não pode estar acontecendo... A minha melhor amiga está ficando com o menino que eu... Que eu... – suspira o garoto que suspira, tentando conter as lágrimas, mas era inevitável.
Ele então se senta e chora copiosamente, uma dor pungente lhe dilacerava a alma. Alex só queria poder estar com Alan em seus braços, poder beijá-lo e acaricia-lo, “por que isso tem que ser é tão difícil?”, se perguntava o menino.
Logo aparecem Natália e colega novo, eles logo notam que Alex estava a chorar, assim como Paulo, Sara e Luiz que os acompanhavam, perceberam o que estava se passando.
- Que você tem? – pergunta Luiz.
- Nada, eu só estou bêbado! – diz o garoto, se recompondo.
Natália então o puxa pelas mãos, tentando animá-lo, mas logo a garota tem que ser conduzida ao banheiro feminino porque começou a passar mal de tanto beber...
No fim da festa Alan fica junto com Alex, para junto com os demais amigos pegarem a van que os levaria de volta. Ambos permaneceram calados, apenas alguns olhares foram trocados...

...

Já no domingo o menino de olhos azuis acorda com ressaca, alguns detalhes da festa ele não mais recordava, mas os beijos de Alan e Natália ele se lembrava perfeitamente.
- Eu acho que o amo... Não posso continuar negando isso pra mim mesmo, embora eu o conheça há pouco tempo eu o amo... – reflete o garoto ainda deitado em sua cama. – Por que nós fomos nos beijar daquele jeito? Por que eu fui conhecê-lo? Eu preciso dele, eu preciso amá-lo e ser amado por ele... Mas não há esperanças, meu Deus, eu não quero viver assim! Eu acho que prefiro morrer... 
O garoto se levanta, em lágrimas, e se dirige a um quarto que ficava nos fundos da sua casa. Lá seu pai guardava uma espingarda.

Alex se tranca naquele quartinho e pega a arma, a coloca no peito, desnorteado e talvez ainda sob um sutil efeito alcoólico. Ele então arruma um bastão com o qual puxaria o gatilho.
- Chega! Essa dor no meu coração, todos os meus dias tem sido um inferno, eu não quero mais viver assim! Alan... Alan... Nunca poderia viver esse amor, mesmo que você me amasse como eu o amo, nunca poderíamos ser livres e a vida sem você, sem sentir seu corpo, seu cheiro, sua pele, seus lábios juntos ao meu... Não, sem isso a vida não mais tem valor... – pensa o Alex prestes a tomar uma decisão extrema.
Ele então puxa o gatilho, mas o nervosismo foi tanto que ele esquecera que jamais seu pai guardaria a arma com balas. Rapidamente, então, o menino de olhos azuis procura a munição e as coloca na espingarda.
- Papai, mamãe, me perdoem, estou sendo covarde eu sei, mas não sinto mais vontade de viver, não sei para que mais viver... Seria apenas para continuar sofrendo... Eu não quero isso... Adeus a todos...

Capítulo 6

Nesse exato momento alguém grita Alex do lado de fora da casa, ele logo reconhece a voz, era Natália...
O garoto atende a amiga, que disse que queria conversar com ele e o convidou para um passeio. Ele, meio relutante, aceitou.
Durante todo o trajeto eles jogaram muita conversa fora, até a amiga tocar no assunto da última festa. Alex então detém o passo, eles ficam estáticos, em frente à igreja matriz da cidade. Natália então fala:
- Eu sei que você gosta muito do Alan, sei que sente muito carinho por ele.
A brisa soprava, assanhando os cabelos encaracolados de Alex, que não consegue negar o que sentia.
- Eu acho que o amo... – diz o garoto, abaixando a cabeça, envergonhado.
- Eu estava bêbada aquele dia, eu nem me lembro muito bem, mas eu acho que eu fiquei com o Alan para ver sua reação, porque eu tenho notado como você olha para ele, às vezes triste, às vezes como alguém que contempla o maravilhoso.
- Eu nunca senti isso por nenhum outro menino, e acho que só sentirei isso por ele, mesmo assim isso me faz um bissexual?
- Você realmente também gosta de meninas?
- Sim.
- Então faz.
Alex fecha o semblante.
- Mas não se aborreça! Procure ser feliz como é! O essencial é ser feliz, não importa como! – sorri a amiga.
O garoto de olhos azuis retribui o sorriso.
- Eu quero que me desculpe, por tê-lo feito sofrer, eu não tinha a certeza, eram meras suposições minhas que, de certa forma se confirmaram após a sua reação. Me desculpe. – Natália abraça o amigo, ternamente.
- Sabe Natália eu quis me suicidar... – confessa o garoto ainda abraçado a amiga.
- Para com isso! – se exalta ela. – Vai morrer e pronto, deixar um monte de gente sofrendo por você! 
- Mas eu não quero viver sofrendo como estou...
- Alex, eu preciso de você! Você é meu melhor amigo e eu te amo!
Ele apenas a abraça.
- Não desista, eu acho que o Alan sente algo por você, eu e Sara temos observado ele também, embora ele seja tímido e discreto, acho que ele se preocupa demais com você. 
- Sara?

- Sim! Sim! Ela acha que ele de certa forma sente ciúmes de você, quando está com os outros e tudo o mais.
- Sei...
- É sério! Não perca a esperança!
Alex sorri, agora com um brilho nos olhos.
...
E assim o tempo vai passando, o segundo colegial ia transcorrendo, Alex completa seus 16 anos e continuava apaixonado pelo agora seu melhor amigo, Alan, que nunca se afastou dele, porém nunca demonstrou interesse maior do que a amizade.
Natália decide ajudar o amigo no que ela pudesse e então em mais uma festa, desta vez de aniversário de uma colega, a garota pretendia conversar com Alan, ouvir o que ele tinha a dizer.
Alex havia combinado de passar na casa de Alan para eles irem juntos, a festa seria realizada na casa de uma colega, era festa de aniversário, regada a cerveja e vodka.
Como sempre, já no início da festa Alex bebe de tudo e logo já estava bêbado, Alan, mais tranqüilo, também não estava muito são. Natália e Paulo também não ficam atrás. Já Sara e Luiz não estavam presentes.
Natália, já alterada, tentava conversar com Alan sobre o assunto, mas sempre era interrompida por alguém, o que deixava Alex mais ansioso. O garoto de olhos azuis sempre bebendo mais e mais, começa a chorar do nada, inventando motivos banais como desculpa, mas no fundo ele chorava pelo amor não correspondido.
De repente, a amiga de Alex também começa a chorar, por um amor não correspondido dela e acaba sobrando para Alan ouvi-la. Ele então decide leva-la para casa, claro, junto com seu melhor amigo.
Antes de levar a garota definitivamente para sua residência, eles parem na praça da cidade, deserta, pois já era tarde da noite de sexta. 
Senta-se numa mesinha de concreto que lá tinha, Alan, Natália e Alex.
A garota se debruça em cima da mesa e lá fica, alcoolizada que estava. Alex faz o mesmo e por fim o menino loiro acompanha os três.

O garoto de cabelos encaracolados então estende sua mão e começa a acariciar os cabelos do amigo, que permite, então Alex pega na mão de Alan, para o espanto do menino de olhos azuis, seu amigo começa então a beijar seus dedos e a fazer-lhe pequenas carícias com a língua.
O coração de Alex dispara, a esperança ressurge poderosa no âmago de sua alma.

Capítulo 7

Alex acorda, sua cabeça doía, logo ele se recorda da noite anterior, da repentina rejeição de Alan, que de repente, como alguém que se recupera de um transe hipnótico, rejeita seus carinhos e vai embora, sozinho, não se detento ante os clamores do amigo.
Era inevitável, era caso perdido. A essa altura todos já desconfiavam dos sentimentos do menino de olhos azuis, ele e o amigo não se desgrudavam, era como se fossem namorados, mas sem as carícias costumeiras dos que se enamoravam. Até mesmo algumas pessoas chegaram a falar para ambos os garotos que já haviam comentários maliciosos sobre os dois, mesmo em realidade eles não tendo nada.
Isso tudo, porém, ajudava a Alex ficar ainda mais pessimista, pois tais comentários só fariam com que Alan se afastasse dele, que também tinha uma parcela de culpa, pois muitas vezes o seu ciúme exacerbado foi motivo de escândalos que levavam as pessoas a terem ainda mais desconfiança da relação de amizade dos dois.
O garoto de olhos azuis então se levanta e vai tomar um banho, em sua mente ele se lembrava da música “Velha Infância” dos Tribalistas, onde os versos “eu penso em você, desde o amanhecer até quando eu me deito” e “o meu melhor amigo é o meu amor”, se encaixavam perfeitamente em sua vida.
Após o banho, toca o telefone e era Natália.
- Então aconteceu isso enquanto eu estava bêbada?! – surpreende-se a moça ao saber tudo o que ocorreu.
- Sim, mas acho que...
- Eu acho sinceramente. – interrompe a menina. – Se passar uma mulher o Alan vai olhar, mas, para te falar a verdade, ele é gilete sim! – gargalha Natália do outro lado da linha.
- Será?
- Você ainda tem dúvidas?
- Mas então por que ele me rejeita?
- Sabe Alex, acho que para ele te aceitar ele primeiro tem que aceitar a si mesmo, e para isso ele tem que passar por cima de muitas coisas, como da sua família.
- Mas é só a gente não assumir!

- Mas talvez ele sinta remorso por ser bissexual, que é o que eu acho que ele é, por não ser do jeito que a família espera que ele seja. A Sara andou investigando, esses dias mesmo ela até foi na casa do Alan fazer um trabalho e ela me disse que o pai dele é super moralista e machista! Chega a ser até ignorante! O tipo do cara que exige que o filho vá na missa todo domingo e tal...
- Não brinca!
- Talvez um dos motivos seja este! O pai dele manda nele com mãos firmes e segundo a Sara ele ficou o tempo todo cobrando as coisas do Alan, parecia que ele queria que o filho vivesse a vida do jeito que ele, o pai, queria!
- Nossa!
- Por isso não perca as esperanças! Daqui uns dias vai ser aquela excursão da nossa sala, com certeza você vai ficar no mesmo quarto dele, aproveita que vamos estar longe da cidade!
- Tem razão Natália! – sorri o garoto do outro lado da linha.

...

Uma nova semana de aula tem início, naquele segundo semestre os dias pareciam passarem em segundos. Hoje Alex convidaria Alan para dividir o quarto com ele na excursão, todos os alunos já estavam arrumando com quem dividirem os quartos, seria mais do que normal convidar seu melhor amigo, certamente não ficaria sob a suspeita de ninguém.
O garoto loiro estava sentado com alguns dos colegas no pátio do colégio, Alex vai ao seu encontro e diz:
- A viagem para a praia está chegando né! 
- Sim! – sorri Alan.
- Eu já falei para as meninas que estão separando os quarto que você e o Paulo vão ficar no meu.
- Não vai dar. – diz o amigo secamente. – Eu já vou dividir com o Rogério e o Estevão.
Alex fica sem palavras. Tudo parecia desmoronar, todas as suas esperanças que ele havia acumulado se foram após ouvir aquelas palavras com aquele ar de desprezo. 
- Como ele podia me abandonar assim? Enquanto eu pensava nele, ele simplesmente ignorou a minha existência, como se nem amigo dele eu fosse! – pensava o rapaz diante daquela situação.

Capítulo 8

- Você é foda né Alan, enquanto eu estava me preocupando com você, para não te deixar sozinho, você nem se lembrou de mim... Que amigo você é! – exclama Alex, exaltado, na frente dos outros garotos.
- Cara, relaxa! – o menino de cabelos loiros tenta acalmar os amigos, mas era inútil.
O garoto de olhos azuis sai furioso, logo que encontra os primeiros amigos ele conta o que acontece e infantilmente vai falando mal do amigo, acusando o de falsidade. Na sua alma a dor do ciúme o consumia vorazmente. Alex não podia nem imaginar Alan, seu amado Alan, longe dele, com outros, logo agora que ele tinha esperanças de algo acontecer entre eles, por estarem longe de casa.
Novamente, todas as esperanças foram frustradas.
Os outros colegas estranhavam a reação do menino, afinal, era só uma divisão de quartos, todos eram amigos, pouca importância tinha isso, ninguém, de maneira alguma, iria ficar sozinho, afinal, a turma era muito unida. Diante disso todos percebiam que existia, para Alex, algo a mais em jogo.
Assim, mais do que triste, o garoto de olhos azuis decidiu não ir para a tal viagem e tomou a decisão de se desligar de Alan, mas antes disso ele pensava em se vingar de qualquer maneira, pensamento infantil que, graças a Deus, ele logo esquecera.
A vida continuou, Alex usou de todas as suas forças para esquecer o colega, embora ainda continuasse se sentado perto dele, eles mal trocavam olhares. Haviam brigado mesmo.
Alan começou a ficar com uma das colegas, pareciam estar ficando firme, no começo isso afetou o menino de cabelos encaracolados, mas logo ele afogou o que sentia. Não mais chorava, não mais lamentava. O cicatrizante chamado tempo estava curando as feridas do espírito de Alex...
Numa determinada festa, Natália arrumou um rapaz que ela achou lindo, e que descobriu ser ele gay, para Alex ficar. Relutante o menino foi e assim aconteceu o seu primeiro beijo homossexual.

- Detestei Natália! O cara é muito velho pra mim! 23 anos!! Detestei! – lamentou o garoto após os amassos, escondidos no meio da noite.

...

O tempo foi passando, tudo estava tranqüilo, o fim do ano foi chegando, Alan já estava com 17 anos e Alex com 16. O segundo colegial, para eles, estava chegando ao fim.
Como todo fim de ano iria ter a cerimônia de encerramento do ano letivo, juntamente com a colação dos formandos daquele ano. Era uma grande festa, todos os alunos se reuniam para assistirem as apresentações no teatro municipal.
Todos os alunos do segundo colegial, em sua grande maioria, iriam estar presentes e logo após, como sempre, a sala iria fazer uma festa na casa de uma das colegas.
Alex não estava muito animado para ir ao evento. O ano para ele tinha sido difícil. Ele muito sofreu e só agora estava recuperado e não gostaria de ver Alan com sua ficante/namorada, ele tinha medo de ter alguma recaída.
Mas de tanto seus amigos insistirem o menino de olhos azuis decide ir, mas não combinou de ir junto com nenhum deles, desta vez ele queria ir sozinho, chegar atrasado, não pegar a cerimônia desde o começo, afinal, ele não estava afim de comparecer.
Então naquela noite, Alex pega uma latinha de cerveja na geladeira de sua casa e já quase no fim do evento, ele sai de casa, bebericando sua Bohemia.
Chegando lá, ele discretamente adentra o teatro e se senta junto com os demais amigos. Nada demais aconteceu no evento que logo chega ao término.
Na entrada do teatro o movimento era geral, cumprimento aos formandos, aos alunos que apresentaram algum número, enquanto a turma do segundo colegial se preparava para ir à festa.
Alex estava tranqüilo a conversar com Natália e sua mãe, uma senhora muito simpática e animada, tiraram algumas fotos, ao longe Alan estava sozinho, sem sua ficante.
De repente o garoto loiro vai, aos poucos, se aproximando do ex-amigo.
Timidamente ele o chama:
- Alex.

Este, que estava de costas para o garoto, se vira, simpático e nada eufórico. Suas experiências pregressas fez com que ele nunca mais esperasse algo vindo de Alan, que na sua opinião, era uma pessoa fria que não demonstrava sentimentos, nem mesmo de fraternidade.
O garoto de cabelos dourados então olha fixamente para o ex-amigo, dá um suspiro e num movimento célere avança sobre Alex, abraçando-o fortemente, bem ali, no meio de todo mundo.
Estático e estupefato, ainda sem entender o que estava acontecendo, o garoto de olhos azuis arregala os olhos. “O que é isso?” 
Natália que estava por perto também muito se surpreende, ela também, depois de tudo, não esperava por tal coisa.
Alex então, retribui o abraço e também abraça fortemente Alan. Logo tudo o que ele sentia vem à tona, como se álcool houvesse sido jogado sobre brasas incandescentes. 
Eles ficam ali, perto daquela multidão, os dois garotos, abraçados um ao outro, como duas almas que se reencontram depois de um longo período de separação.
Os corações dos dois batiam forte, em sintonia de sentimentos.

Capítulo 9

Alan então, carinhosamente, solta-se do aconchego dos braços de Alex.
- Vamos para a festa. – diz o menino loiro, com um olhar profundo.
- Vamos sim! Mas e a Júlia? (ficante de Alan). – pergunta Alex ainda nos ares.
- Como você deve ter percebido ela não veio. Nós demos um tempo.
- Ahhh.
O garoto de olhos azuis não diz mais nada, ele ainda não estava acreditando no que havia acontecido.
Então os dois, juntos dos demais amigos, foram para a festa.
Sentados juntos, numa mesa sozinhos, Alex então decide falar:
- Me desculpe por ter sido sempre tão ciumento, tolo e intolerante.
- Já te falei várias vezes que eu não sou de reclamar e nem de guardar essas coisas, esquece tudo, tudo o que aconteceu até agora, esqueça. – diz Alan, com um olhar cheio de brilho.
- Mas nem tudo eu quero esquecer... Aquela noite...
- Pare. – o menino loiro segura no braço do amigo, com carinho. – Vamos beber, depois conversamos. – sorri o garoto.
Cervejas e vodkas passam pelos lábios dos dois amigos, que se distanciam um do outro na festa, Alex não queria repetir os mesmos erros, de querer sempre estar com Alan, esquecendo que ele tem a vida dele.
Já no fim da noite, após muitos terem ido embora e os que restaram estarem “mais loucos que o Batman”, Alan estranhamente chama Alex pra dançar, mesmo ninguém mais estando dançando, coisa típica em fim de festa.
- Você está disposto de tudo comigo? – pergunta o menino loiro enquanto dançava com o amigo a música “Not gonna get us” versão remix.
- Como assim? – surpreende-se Alex, ainda não acostumado com o que estava acontecendo naquela noite.
- Eu tentei resistir, Alex, mas é mais forte do que eu, não pode ser errado viver isso que estou sentindo, porque sei que é o amor mais puro que já senti por alguém... – garoto começa a ficar com os olhos marejados. – Eu sei que te fiz sofrer, sei que foi idiotice, pois não se pode apagar o amor quando ele é verdadeiro...
A música ecoava por todo o canto: “Nothing can stop this, not, now I love you!”

- Alan, não diga mais nada. – fala o menino de olhos azuis celeste, agora chuvoso.
Aos poucos os dois vão se aproximando um do outro e se abraçam ternamente. Se afastando um pouco, ficam ali, contemplando um a face do outro.
“My love for you, only is forever.”
Alex então começa a acariciar o rosto delicado de Alan, enquanto leve sorriso estampava-se em seu rosto de menino.
Os poucos presentes que ali estavam nem prestavam atenção nos dois amigos, bêbados, uns dormiam outros jogavam truco. Mas nem se estivessem atentos, Alan e Alex pareciam transportados para outro lugar, pareciam estarem envolvidos por uma atmosfera de um sentimento muito forte, para eles, naquele momento, o que mais importava, ou melhor, a única coisa que importava, era somente o amor que sentiam um pelo outro. Um amor arrebatador, que nunca poderia morrer, nunca poderia se apagar, tal como acontece com a chama das paixões passageiras das quais somos vulneráveis.
“Just you and me, all else is nothing.”
Alan então também coloca sua mão direita no rosto do amigo e lentamente ele puxa a face do garoto de cabelos enrolados, indo de encontro aos seus lábios e o beijando, não apaixonadamente, mas sim aquele beijo carinhoso, sem grandes empuxos, mas que transmitia o mais nobre dos sentimentos da humanidade: o amor.
Os dois se abraçam e se beijam, os outros colegas que viam a cena se surpreendem, era algo raro ver tal coisa em uma cidade pequena. Natália e Sara que estavam presentes ficam felizes pelo amigo. Embora a estranheza de todos, ninguém os olhou com sentimento de repulsa, aquilo era amor, sem dúvida, um amor que se percebia por cada mínimo gesto dos dois amantes, era uma energia contagiante que se implantou por todo o recinto.

Capítulo 10

Os dois garotos terminam o beijo e ainda abraçados, se viram para os amigos e sorriem.
Sorrisos e olhares de espantos eram lhe oferecidos.
- Eu sabia! – fala Paulo, ainda embriagado. – Eu suspeitava! 
- E agora vai parar de ser nosso amigo? – retrucada Alex.
- Claro que não! Faz o que quiser da sua vida! – sorri Paulo.
- É... – diz Luiz que se aproxima dos dois garotos. – Você não tem jeito... – fala ele sorrindo.
- Ahh!!! – debocha o garoto de olhos azuis, de mãos dadas com Alan.
- Eu sabia que você não ia resistir Alan. – fala Natália.
- Eu cansei de lutar comigo mesmo e posso dizer a vocês que estou me sentindo muito bem! Pra mim nada mais importa, só quero estar assim, desse jeito! – fala o garoto loiro, sob efeitos do álcool, segurando mais forte na mão do amigo.
- Sim, eu também penso o mesmo. – diz Alex que o olha ternamente.
E assim os dois garotos, Alex e Alan, assumiram seu romance para os seus amigos, os dois se entregaram de vez ao amor que sentiam um pelo outro, sem represálias, sem quererem sufocar aquele nobre sentimento. Sentimento este que os dava forças para superar as barreiras do preconceito, deles e dos demais, e mostrar que o amor verdadeiro não tem limites, não se limita a homem e mulher. Essa força poderosa chamada amor, lhes dava coragem para prosseguirem juntos, sem temer o futuro.

...

Um castelo medieval, sombras e névoas por todos os lados... Brandir de espadas... Um grito de dor... O sangue escarlate corria farto manchando as vestes...
- Eu te amo e isso é para sempre, por toda eternidade te amarei... Eternamente... Et... Eternamente...
Alex acorda assustado. Havia tido um pesadelo, nele um rapaz lutava em um castelo, mas ele se feria em combate e acabava morrendo...
Mas isso não perturba o garoto que logo se lembra da noite de ontem, seu sonho havia se realizado, agora ele era feliz, o menino que ele amava finalmente correspondia ao seu amor.

Vencido pela ansiedade, Alex logo de manhã telefona para Alan, combinando de se encontrarem na praça central da cidade, naquela mesma tarde. Eles precisavam conversar sóbrios.

...

Então já na praça, num dos bancos no centro do jardim, os dois garotos se encontram e se sentam. A brisa soprava, ambos pareciam estarem um pouco envergonhados, afinal, era a primeira vez que eles se apaixonavam por alguém do mesmo sexo. Alex, menos tímido, é quem puxa o assunto.
- Eu queria poder te beijar aqui Alan... 
- Mas não podemos... Né? – diz o menino loiro.
- Sabe Alan, eu estou tão feliz, me sinto como jamais em minha vida havia me sentido. Sinto como se tivesse encontrado o que me faltava nessa vida, o meu sustento, o meu apoio, com você junto a mim eu não temo nada! Nem o futuro! 
- Alex, antes de mais nada, quero que me desculpe por tê-lo feito sofrer, eu tentei esconder de mim mesmo que te amava, mas desde o primeiro dia você mexeu comigo... Eu passei todo esse tempo tentando afogar meus sentimentos, com medo de que eles fizessem meus pais e meus parentes sofrerem, pensei que arrumando uma namorada eu iria conseguir esquecê-lo, mas foi mero subterfúgio, um meio com o qual eu tentava fugir da realidade de mim mesmo, pois não dá para simplesmente apagar o amor, que é o que eu tenho certeza que sinto por você, por isso, me desculpe... – fala Alan, com os olhos brilhando.
- Não fique triste. – Alex acaricia levemente o rosto do seu amor. – Não quero ver você triste, quero te ver sempre sorrindo! Quero fazer você feliz, proteger sua felicidade! Tentar fugir de nós mesmos é normal, eu também tentei, mas por fim vi que não conseguia, era inevitável, era forte demais, sempre, mesmo nas decepções, acho que eu mantive esperanças num futuro... Com você, meu amor.
- Para mim Alex, nada mais importa também, eu realmente te amo, realmente você me completa, não tenho nada a temer.
- Então, você acha que deveríamos contar para os nossos pais?

- Minha mãe iria ficar abalada, eu sei, principalmente se ela descobrisse sozinha...
- A minha também... - interrompe o menino de olhos azuis.
- Mas por fim sei que ela me aceitaria como sou, o problema é meu pai que é meio rígido...
- Com meu pai iria ser mais difícil, mas por fim ele levaria... 
- É Alex, meu pai não é fácil sabe... – lamenta Alan.
- Mas está disposto a enfrentá-lo?
- Sim! – sorri o garoto loiro. – Por você, por nós e principalmente com você eu tenho coragem para tudo!
- Então vamos esclarecer tudo? – também sorri Alex, demonstrando o amor estampado em sua face.
- Sim!

Capítulo 11

Alex e Alan, dois garotos de dezesseis anos que se amam e que estão dispostos a tudo para viver esse sentimento intenso que um sente pelo outro. Cada um, à sua maneira, tentou apagar o que sentia pelo outro, todo sentimento acaba tendo seu término, porém, o amor é sempre eterno e agora os dois jovens irão enfrentar a dura realidade da vida, mas acima de tudo existe uma força maior que os une e os unirá sempre: O amor.
Mesmo querendo assumir o que sentiam um pelo outro, os dois namorados hesitavam em tomarem tal medida, principalmente Alan, que sabia que não iria ser fácil enfrentar seu pai, moralista e católico fervoroso.
Alex decidiu dar pistas a sua mãe, levando Alan sempre a sua casa e não restringindo-lhe os carinhos, para posteriormente abrir o jogo para a sua mãe. 
E foi assim que se deu, como toda mãe, claro que ela ficou um tanto quanto abalada, mas aceitou, afinal, era um motivo muito pequeno para ela odiar seu filho. Já com o pai de Alex foi mais complicado, mas nada que algumas semanas não resolvessem.
E enquanto isso, nada de Alan decidir sobre seus pais...

...

Em certo final de semana, os garotos iriam à sua primeira festa juntos, numa baladinha que iria acontecer na cidade. Era uma decisão séria, pois um garoto com outro garoto em uma cidade do interior não é nada comum e muito pouco aceitável. Mas Alex e Alan estavam certos, a felicidade de ambos era tanta que eles nem se preocupavam com o que poderia vir a acontecer.
E assim a noite de sábado chegou, o clube local já estava todo iluminado, as pessoas aos poucos iam lotando o ambiente, onde luzes coloridas piscavam e os sons agitavam os jovens da cidade. 
A turma toda iria àquela festa, Alex, Alan, Paulo, Natália, Sara, Luiz e muitos outros colegas de sala, todos já acostumados com os sentimentos dos dois ex-amigos e atuais namorados.

Os dois meninos entram normalmente, não andavam de mãos dadas, tudo estava normal, dentro dos conformes para uma cidade de menos de vinte mil habitantes e numa balada hétero. Talvez fosse bom manter as aparências, pois em cidades pequenas todo mundo conhece todo mundo.
Aos poucos todos da turma vão ficando meio “alegres”, eram cervejas e doses. Alex como sempre não rejeita as bebidas e Alan o acompanha. Logo os dois estavam dançando, mais descontraídos, as agitas músicas “boatísticas”.
No meio da música, então, Alex toma uma decisão rápida, ele puxa o menino loiro pela cintura e o trás para perto de si. Um fica a encarar o outro, com um leve sorriso nos lábios, que quase se tocavam.
De repente para a surpresa dos seus amigos e de todos ali presentes, os dois garotos se beijam, chamando a atenção geral, deixando todos os que ali estavam estarrecidos. 
Aos poucos, em meio a música, eram escutados alguns deboches e piadas de mal gosto. Alex para de beijar Alan, mas continua de mãos dadas com ele.
- Alan, eu não vou aceitar essas coisas, nós não somos criminosos nem nada para sermos tratados assim! Nem se o fôssemos! – diz o garoto de olhos azuis.
Ele então grita bem alto um palavrão para todos os que ali estavam zuando com eles.
- Eles vão ter que nos engolir! E que se foda eles! – sorri Alex.
- É verdade! – retribui Alan, o sorriso.
Os dois garotos então saem da pista de dança, por onde andavam sempre havia algum engraçadinho debochando. Eles se dirigem a fila onde compram-se fichas para as bebidas.
Lá, aparece um rapaz que lançam-lhes ofensas das mais grossas, Alex, não se contendo, parte pra cima do cara e lhe derruba no chão, esbofeteando-o.

Resultado da noite: Os dois namorados foram expulsos do clube por brigarem, apanharam um pouco, mas também deixaram bons hematomas nos seus ofensores. Sozinhos, os dois retornam juntos para casa, rindo muito, felizes, pois naquela noite eles não se curvaram ante o preconceito, não deixaram por menos as ofensas, mostrando que não são criaturas frágeis dignas de dó, mas sim seres humanos como qualquer outro, que lutam pelos seus sonhos e tentam ser felizes do jeito que são.
No dia seguinte, Alan acorda tranqüilo, pouco havia bebido e não estava com ressaca. O menino loiro fica na sua cama a pensar no que aconteceu e no quanto estava feliz, pois tinha o seu amor ao seu lado e nada mais importava. Pensava mesmo em assumir para seus pais.
Passos fortes e rápidos então são ouvidos, com movimentos bruscos o pai do menino loiro adentra o seu quarto. Seus olhos estavam vermelhos de raiva e pareciam que iam saltar do seu rosto. 
- Me falaram que você estava beijando um moleque na festa ontem! – grita o pai de Alan, espumando de raiva.

Capítulo 12

O coração de Alan dispara, ele fica vermelho de vergonha, mas logo fica branco de medo, seu pai estava num estado nervoso de dar medo, parecia que iria fazer alguma loucura.
- Responde desgraçado! Anda! – grita Antônio, pai do menino loiro, que não consegue falar nada, tamanho o temor. – Não precisa responder, sua cara já mostra tudo!
O pai do garoto, com raiva, então puxa o edredon que o cobria, Alan se levanta célere, só de shorts.
- Sai fora da minha casa bicha! Sai! – grita Antônio.
- Não pai...E...E...Eu... – o garoto loiro não tinha forças para reagir, seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas. Parecia que tudo estava se desmoronando.
- Você não é mais meu filho! Para de me chamar de pai! Bastardo! Perdido! Desgraçado! Vai embora da minha casa! 
Alan então toma forças e também grita com todo ar que havia em seus pulmões:
- Eu o amo!! Por isso eu o beijei!! Porque eu o amo!! Não cometi nenhum crime!
Antônio fica em silêncio, não esperava aquela reação do filho. A sua raiva aumenta ainda mais. Era insuportável ouvir aquilo. Ele perde a cabeça e dá um murro no rosto do garoto, que cai no chão, com os lábios sangrando.
Nisso a mãe de Alan chega e pede ao marido que pare com aquilo, a imagem de seu filho caído no chão, com o lábio inferior cortado, leva aquela mulher às lágrimas. 
- Pelo amor de Deus pare com isso! Violência não resolve nada! – implora a mãe.
- Ele merece morrer! Me envergonhou! Envergonhou a todos nós! Desgraçado! Maldito! Amaldiçoado! – grita o pai, incontrolável.
- Sai daqui Alan, vai pra lá! – suplica a mãe em lágrimas.
O menino loiro, com os olhos arregalados de medo, sai do quarto correndo. Ele não sabia o que fazer. Sua vida toda parecia que estava sendo tragada pela raiva de seu pai. Uma só coisa lhe vem à mente naquele momento.

O ar gelado que envolvia aquele castelo medieval era sentido por todos, o nobre olhava com raiva, banhado em jóias, ele assistia a morte de um jovem e uma jovem, empapados de sangue, ambos ali, desfaleciam... Era muito sangue... 
Alex então acorda, havia tido mais um pesadelo. Alguns hematomas e arranhões pelo seu corpo demonstravam o “agito” da noite anterior. Mas o garoto estava feliz, sorria deitado em sua cama, pensando no namorado.
O telefone então toca, ele atende.
- Alex...Alex...- suspirava Alan, do outro lado da linha, mais do que nervoso.
- Alan?! O que foi meu bebê? O que você tem?
- Meu pai Alex...- o garoto segurava as lágrimas que lhe corriam o rosto pálido. – Meu pai descobriu tudo sobre a gente... Ele me deu um murro... Cortou meu lábio e está sangrando... 
- Calma! Calma Alan, eu... eu... Eu estou indo até a sua casa agora! – o menino de olhos azuis fica eufórico e nervoso, uma dor aperta seu coração, a dor de ver quem mais se ama sofrendo.
- Não venha Alex, meu pai me mandou embora daqui! Ele disse que eu não sou mais seu filho... E...
- Não fale mais nada! Eu vou aí te buscar de carro!
Alex desliga o telefone e se troca rapidamente, conta o que estava acontecendo a sua mãe e lhe pede o carro emprestado, mesmo não tendo carteira de motorista, ele sabia dirigir.
Já dentro do veículo, o garoto de olhos azuis liga o rádio, na tentativa de se acalmar. 
Na rádio tocava a música “All About Us” das t.A.T.u.
“If, they, hurt, you, they, hurt, me, too.” 
Dizia a música em alto volume.
Alex corre como jamais havia corrido no carro, logo chega à casa de Alan, que estava só de shorts, na porta de sua residência.
- Vamos embora! Entra aí! – fala o menino de olhos azuis, ainda mais nervoso por ver o sangue do namorado, escorrendo por seu pescoço.
- Alex... Eu não sei...
- Entra aí! Depois pensamos, no momento eu só quero levar você para um lugar seguro!
Alan então decide entrar no carro, mas nesse momento seu pai aparece, furioso, gritando:

- Então você é o amaldiçoado que fez isso com meu filho!
- Pai... Ele não me fez nada. – diz o menino loiro, ainda com medo.
- Cale a boca e vem já pra cá! Você não vai a lugar algum!
- Deixa ele ir! O senhor bate nele e depois o chama de volta?! Está achando que o Alan é algum brinquedo que o senhor joga fora e depois pode pegar de volta quando quiser! – grita Alex, furioso e não demonstrando medo algum. – Ele é um ser humano e possui sentimentos! Muito embora o senhor não respeite isso!
- Desgraçado!
- Vamos Alan! Depressa!
O garoto loiro então entra no carro. Alex acelera e logo eles desaparecem na esquina.
- Isso não vai ficar assim! Desgraçado, não vou deixar você estragar ainda mais o meu filho! – grita o pai de Alan, desvairado.

http://static1.orkut.com/img/b.gifCapítulo 13

Dentro do carro, Alex ainda pisava fundo no acelerador, a adrenalina era muita, o garoto suava, ele havia desafiado o próprio pai do seu amado.
Alan então coloca sua mão sobre uma das mãos do namorado, estavam geladas...
- Me desculpe por te deixar assim... – fala o garoto loiro.
- Não deixarei ninguém te fazer chorar. – o menino de olhos azuis apenas diz isto, seriamente e sem tirar os olhos do volante, como alguém que diz a maior verdade de sua vida.
- O que vamos fazer agora?
- Vamos para a casa da Natália, esfriar a cabeça e pedir pra ela alguma camiseta que te sirva, não quero que meu gatinho pegue um resfriado. – sorri Alex, gentilmente, agora dando uma rápida olhada para o ex-amigo.
Chegando à casa de Naty, ela arruma uma camiseta que servisse em Alan e lhes servem um suco de maracujá, tentando acalmar os dois garotos, que estavam com os nervos à flor da pele. Alex também cuida da ferida no lábio inferior do menino loiro, que dizia já não sentir dor.
- Eu não me conformo dele ter te feito isso e agora ficar chamando você pra voltar, falando que eu te estraguei e coisas assim... – diz o menino de cabelos enrolados, enquanto limpava o machucado do seu amor.
- Ele perdeu a cabeça de tanta raiva... – diz Alan com um semblante triste.
- Alan, não se sinta culpado por ser como você é! – diz Natália, percebendo as entrelinhas.
- É! Nós nos amamos! O amor não é errado, é a humanidade que o limita aos seus padrões! – exclama Alex.
- Mas e agora Lex, o que vamos fazer?
- Vamos esperar até seu pai se acalmar e você vai voltar pra casa, tenho esperança que ele logo aceitará a nossa situação, pelo menos devemos acreditar nisso.
- E se ele nã...
O garoto de olhos azuis interrompe Alan, colocando levemente seus dedos sobre sua boca. Um olhar terno e profundo é por ele lançado.
- Não diga uma coisa dessas, porque isso implicaria conseqüências que eu nem quero pensar... Eu não gosto nem de pensar em viver sem você Alan.

Então mais tarde Antônio, o pai de Alan, vai junto com a esposa até a casa de Natália e o menino loiro volta para casa. O pai estava mais calmo, embora não o tratou com delicadeza e nem ao menos lhe dirigiu a palavra durante todo o percurso.
Alex e Natália ficaram observando o aluno novo ir embora, seu namorado temia o que agora poderia acontecer.
...

Foi uma noite difícil aquela. Alex não teve nenhum sonho estranho desta vez, porque ele sequer conseguiu dormir, tudo o que havia acontecido lhe pesava na mente e também ao chegar em casa sua mãe lhe advertiu sobre o que poderia acontecer, sobre o desconforto que era ter alguém lhe condenando pela conduta do filho. Era tudo muito complicado.
Por sua vez, já em casa, Alan chorava, sozinho e em silêncio, trancado em seu quarto. “Por quê ele não compreende?” Repetia em sua mente o garoto. “Não é pecado, não é aberração! É apenas amor!” Revoltava-se ele, no íntimo de sua alma, sem poder lutar por seu amor, porque temia o pior, temia os atos impensados que por ventura seu pai poderia cometer contra ele e, que mais lhe apertava o coração, contra o seu amado Alex. 
Na esperança de finalmente cair no sono ele liga o rádio, tocava a música “Little Wonders” de Rob Thomas...
 “Nós vamos superar tudo. No fim o que realmente importa é o coração...”

...

Amanhece, a mãe de Alex o acorda rapidamente, Alan havia chegado muito nervoso em sua casa. 
Mais do que rapidamente o menino de olhos azuis vai até ao encontro do namorado. Já a sós, ele se depara com Alan com os olhos cheio de lágrimas.
- Lex... Meu pai vai me mandar semana que vem para morar com a minha avó no norte do país!!

Capítulo 14

Alex emudece. Seu coração dispara e ele começa a suar frio. Um medo toma conta de sua alma.
- Para outro estado? Longe de mim?! – exclama o garoto de olhos azuis, atônito e assustado.
- Sim... Minha mãe não pôde fazer nada, apenas concordou, para evitar confusões... Meu pai quer a todo custo me afastar de você Alex, ele acha que você me desgraçou...
- O que faremos? Meu Deus... Isso não pode acontecer... – lamenta Alex, desta vez fraquejando.
- Eu não sei o que fazer. – fala Alan que se senta, colocando as mãos entre os cabelos, nervosas.
- Calma, temos que ter calma. – o garoto de cabelos encaracolados se senta ao lado de seu namorado e o abraça. – Nós vamos dar um jeito, ninguém vai nos separar! Nosso amor é mais forte que isso tudo!
O menino loiro apenas o abraça e ambos choram. Na verdade estavam desesperados, tudo parecia estar desmoronando, nenhum dos dois vislumbrava o que poderia ser feito. “O amor entre eles era algo tão simples e ao mesmo tempo tão sublime e verdadeiro, por quê eles não podiam ser livres para se amar?” Ambos questionavam em suas mentes.
- Alan, é melhor você ir embora, se não as coisas poderão se complicar ainda mais. – diz Alex olhando seriamente para os olhos castanhos de seu namorado.
- Mas... E ...
- Eu te ligo mais tarde, eu te prometo que daremos um jeito. Eu juro por Deus e por nosso amor!

...

- Mamãe, papai, minha família, meus amigos... Eu amo todos vocês, mas infelizmente um amor maior me faz ter que passar por cima disso tudo, esse amor incondicional que eu sinto pelo Alan, me faz ter forças para passar por cima de toda a minha vida como se ela nada significasse sem poder tê-lo ao meu lado... – pensava o garoto de olhos claros, enquanto tomava um banho, já no anoitecer. – Eu sou um egoísta... Mas por favor me perdoem, eu não sei mais viver sem poder amá-lo, sem poder protegê-lo, sem poder fazê-lo feliz! 
Alex sai do banho e se arruma, pega uma mochila e coloca dentro dela algumas roupas. Ele então telefona para Alan.

- Está pronto para viver seu amor junto a mim? – diz o garoto de olhos azuis.
- O que você está pensando em fazer? – surpreende-se o menino loiro.
- Você confia em mim e acha que o que nós sentimos um pelo outro vale a pena?
- Claro que sim! É o que mais vale a pena em minha vida!
- Então arruma algumas roupas e me encontre daqui a quinze minutos no centro da cidade.
- Sim!
Então assim acontece. Naquela noite, tempestuosa, o vento frio soprava os cabelos dos dois garotos que se encontravam na deserta praça central daquela cidade. Relâmpagos reluziam ao longe. 
Ao se depararem um com o outro, eles imediatamente se abraçam ternamente, se beijando, ali mesmo, sem se importarem se seriam vistos por alguém, afinal, nada mais importava.
Alex então conta seu plano a Alan...
Os dois meninos estão se dirigem ao galpão onde a prefeitura guardava seus veículos. Eles pulam o portão e facilmente adentram o local.
Os trovões ecoavam por toda a parte. Alan segura firma na mão de Alex, eles apenas encaram um ao outro, seus olhares já diziam tudo, já transmitiam a sinceridade e a certeza de que ambos não saberiam viver sem estarem juntos.
Os dois então arrombam a porta de uma camionete da prefeitura e Alex faz a ligação direta, colocando o veículo a funcionar. Ele acelera e arrebenta o portão, saindo em disparada do galpão!
- A essa altura meus pais já devem estar lendo a carta que eu lhes deixei, com certeza vão tentar nos seguir. – diz o garoto de olhos claros enquanto acelerava por certa avenida da cidade.
- Seus pais vão telefonar para os meus e eu não sei o que meu pai vai fazer, mas algo ele irá fazer Lex, isso eu tenho certeza! – diz o menino loiro com um semblante preocupado.
- Calma Alan, agora estamos juntos e ninguém vai nos separar. – ele segura firme em uma das mãos do amado.

Como previsto, àquela altura a família de ambos já estavam desesperadas com o que tinha acontecido, a polícia já havia sido acionada e estes logo ligaram os fatos com o furto da camionete da prefeitura, para o qual eles haviam sido acionados por vizinhos do galpão municipal.
Antônio, o pai de Alan, estava furioso e desesperado.
- Aquele desgraçado está levando o meu filho! – gritava o homem, com os olhos assassinos.
- Calma! Calma! Tudo vai se resolver, os policiais... – dizia a mãe de Alan.
- Não vou esperar os policiais! Eu mesmo vou atrás deste maldito que está levando meu filho para a perdição! – dizendo isto, Antônio sai com a sua camionete, levando consigo uma garrafa de conhaque, que ele bebia freneticamente.
Na saída da cidade, a força policial havia se adiantado e duas viaturas cercavam a estrada, sendo que alguns policiais estavam fora dos carros de modo a acenarem para os garotos pararem.
Ao verem isto, ainda ao longe, Alex não detém nem um pouco a velocidade.
- Esses homens estão tentando nos deter. – diz o garoto de olhos azuis.
- Ninguém vai nós parar agora né Lex?! – sorri gentilmente Alan, aquele sorriso tirava todo o medo de Alex que continua acelerando.
Os policiais começam a se assustar, ao verem que a camionete da prefeitura que vinha ao longe não reduzia sua velocidade. Já muito próxima, eles acabam por sair do meio da estrada e os dois carros que obstruíam o caminho são esbarrados e à força dão caminho para os dois adolescentes passarem.
Nada os deteria, o amor que sentiam um pelo outro era tão grande, tão verdadeiro e tão sublime, que todas essas loucuras que eles estavam fazendo pareciam pequenas e ignoráveis, ante a imensidão do amor que emanava de seus corações; e não seria essa sociedade mesquinha, que mesmo não sendo apta a descrever o que é o amor, julga-se no direito de limitá-lo à padrões efêmeros, se esquecendo de que esse sentimento, mola propulsora de todo o universo, é algo transcendental e divino, que não pode ficar adstrito de concepções humanas e falhas.

Porém, logo atrás da camionete conduzida por Alex, o pai de Alan, Antônio, passa célere pela barreira dos policiais.
Já sob os efeitos do álcool, aquele homem até babava de raiva e seguia incontrolável, proferindo impropérios, cheio de ódio e de pensamentos assassinos. Não poderia aceitar, jamais, que seu filho havia sido “desgraçado” por Alex que o estava levando embora. Antônio preferia ver seu filho morto, a presenciar o que estava acontecendo.
- Meu pai está nos seguindo! – exclama Alan ao ver pelo retrovisor a inconfundível camionete 4x4 de seu pai.
- Calma! Nós vamos correr! Ele não vai nos pegar e nós não vamos voltar! Seremos livres para vivenciarmos esse amor! Eu juro! – sorri Alex.

“Not going back, not going back there, they don´t understand, they don´t understand us!”

Mas para o azar dos garotos, logo Antônio os alcança e fica ao seu lado na rodovia. Ele abre o vidro da sua camionete e começa a gritar, furioso, ordenando que Alex soltasse seu filho e o deixasse ir embora.
Os dois garotos apenas fecham os vidros do veículo. Nada mais lhes importava.
A chuva então começa a cair, raios e trovões acompanhavam aquela violenta tempestade.
- Maldito! Desgraçado! Está roubando meu filho! Não quero isso! Não quero! – gritava em lágrimas de ódio o pai de Alan.
Ele então, ainda com sua camionete ao lado da camionete conduzida por Alex, começa a esbarrar violentamente no veículo dos meninos, deixando difícil a condução deste.
- Alex, o que ele está fazendo! – pergunta o menino loiro assustado.
- Calma Alan, nós vamos sair desta juntos! – diz o garoto, assustadíssimo também, não conseguindo conter a direção da camionete. – Lembre-se, acima de tudo, eu te amo muito e isso é eterno.
- Eu também! Te amo para sempre. – Alan segura firme na mão do namorado.
Desta vez ainda com mais força Antônio joga sua camionete para cima do veículo dos garotos, que sai da pista e escorrega por um barranco, caindo de uma altura considerável, por entre árvores e outras vegetações...

Imediatamente o pai de Alan pára e estaciona seu automóvel. Ele sai para verificar o ocorrido. A chuva cai forte. 
A camionete da prefeitura estava destruída. Aos poucos Antônio vai tomando consciência do que havia feito. Logo os policiais chegam ao local...

...

Alex acorda, não havia nenhum ferimento em seu corpo. Ele estava deitado numa confortável cama de lençóis alvos como a neve. 
- Alan! Onde ele está? – se pergunta o garoto que se levanta rápido da cama.
Vestido com um pijama azulado, ele se dirige até a única porta do quarto e depois dela segue por um corredor, chegando a um belo e florido jardim.
Lá, em um banco, acompanhado de um simpático senhor, estava Alan, também vestindo o mesmo pijama e sorrindo muito.
Alex vai até o seu encontro e o abraça forte, dizendo:
- Pensei que você tivesse morrido... Que eu fosse ficar sem você ao meu lado! 
Lágrimas de felicidade corriam pelo rosto do garoto de olhos azuis.
Naquele bonito e perfumado jardim, sob a aconchegante luz solar matinal, eles novamente se beijam, amorosamente.
- Lex, agora poderemos ser livres para nos amarmos! – diz Alan, depois de terminada a demonstração de carinho.
- Onde estamos Alan? – pergunta o garoto de cabelos encaracolados, confuso.
- Estão em um lugar de paz. – responde o simpático senhor de cabelos nevados.
- Sim Alex, nosso corpo ficou na Terra, mas nosso amor resistiu a tudo e ainda vive em nossos espíritos. – fala o garoto de cabelos lisos, sorrindo amavelmente.
- O quê? Nós morremos?! – surpreende Alex.
- Vocês não morreram, ninguém morre! Somos espíritos imortais, apenas nosso corpo perece, enquanto nós e nossos sentimentos vivem para sempre. – diz o senhor.
- Quer dizer que estamos no mundo dos espíritos? – reflete Alex.
- Sim! E aqui vocês poderão ser livres, longe de toda as limitações ao amor que a Terra, ainda e infelizmente, impõe.
Os dois garotos então dão as mãos. Uma felicidade começa a tomar conta de ambos.

- Vocês dois, Alan e Alex, são espíritos que ansiavam muito por se encontrarem, desde a reencarnação de vocês na França medieval, onde Alex era Adrien, um jovem camponês, e Alan, Adeline, uma nobre, vocês permaneceram ligados pelo amor que sentiam um pelo outro.
Ambos os meninos se surpreendem, aos poucos eles começam a se recordarem dos acontecidos pretéritos de suas vidas passadas.
- Naquela ocasião, Adeline e Adrien viviam um amor proibido, por ela ser da nobreza foi obrigada a se casar com o príncipe Adílio, mas o amor de vocês dois resistiu a tudo isso, e você Alex, como Adrien, tentou viver esse amor, mas Adílio impediu. – continua o simpático anfitrião. – Nos dias de hoje, Adílio reencarnou como Antônio, o pai de Alan, por isso ele sentia tanto ódio de Alex, que tentara roubar sua prometida no passado. 
- Isso explica aqueles sonhos que eu tinha...- comenta o menino de olhos azuis.
Suspiros de ambos os jovens.
- Por isso meus garotos, vocês sempre se amaram, desde a primeira vez que se viram. Era um amor antigo e eterno que transcorreu por todos os séculos e nunca perdeu seu brilho!
A brisa fresca soprava.
- Nascemos, desencarnamos e reencarnamos. Ora no corpo de homens, vez outra num corpo feminino. Por isso mesmo, não importa como o amor vem, esse sentimento sublime não deve ser limitado à constituição morfológica dos indivíduos, pois todos somos espíritos imortais e o corpo é passageiro, sendo que o que importa é o verdadeiro amor que une duas almas, isso sim é valioso e transcendental! Isso sim é durável e imortal! Assim como o amor de vocês dois, não como o amor de dois garotos, mas acima de tudo, como o amor de dois espíritos imortais que escolheram um ao outro como companheiros na jornada da vida eterna.
Os dois garotos se abraçam emocionados. Em suas mentes todas as vidas preteridas aos poucos vão sendo relembradas. 
Finalmente eles poderiam se amar livremente, sem ninguém a os impedir.

Finalmente aquele sentimento superior que os unia poderia ser vivenciado com toda a intensidade e grandeza. E assim seria, vida a vida, por toda a eternidade...

FIM